Especialistas
evidencias caminhos para a geração energética em encontro do IRDES
Quem empreender
ou investir em energias alternativas tende a não se arrepender. Ainda mais num
país que apresenta demanda em amplo crescimento e oferta limitada de energia e
mais: problemas num futuro próximo, com novas tecnologias entrantes, como
capacidade para recarga rápida em veículos elétricos, tendem a acelerar a busca
por soluções inovadoras que, por tal condição, acabam sendo altamente
rentáveis. Estas informações e o desafio
em manter a variedade de opções de energias alternativas foram temas evidenciados
no Encontro do IRDES – Energias Alternativas – Desafios e Oportunidades,
realizado na Casa da Indústria, em Pato Branco, na noite do dia 15 de setembro.
Na oportunidade
o vereador e mestre e doutor em Tecnologia pela UTFPR, Marcos Marini evidenciou
a evolução do uso da energia na história da humanidade, ressaltando que estamos
“num novo ciclo” em que serão necessárias novas políticas públicas para acolher
os desafios, as carências estruturais e as oportunidades que surgirão no Setor
Energético. “Além da redução do uso intensivo de fontes energéticas não
renováveis caminhamos para alternativas extremamente novas e que farão a
sociedade rever conceitos e posições, tendo por base objetivos do Milênio,
estabelecidos pela Organização das Nações Unidas – ONU, como Energia limpa e
acessível, cidades e comunidades sustentáveis e ação contra a mudança global do
clima.”
Marini falou das potencialidades das energias
hídrica, solar, eólica, de biomassa, geotérmica e oceânica. No mundo só carvão
mineral, petróleo e derivados representam mais de 58% da geração, o que precisa
ser modificado. No Brasil petróleo e seus derivados e o carvão representam
quase 39% da geração. Lenha e carvão impactam em 8,9%, algo que também deverá
ser modificado. Já os derivados da cana-de-açúcar, energia hidráulica e gás
natural, energias mais limpas totalizam 43,5% do uso de energias no país. “No
Brasil 83% da energia utilizada é renovável, enquanto no mundo o percentual cai
para 25%”, demonstrando que estamos bem, mas podemos evoluir.
Quanto às
políticas públicas Marini diz que ainda há muito a ser desenvolvido para o
aproveitamento de energias alternativas nos ambientes residenciais e
industriais e na própria Administração Pública. “Estamos buscando de formas de
estimular empreendimentos no Setor, talvez por sistemas cooperativos, que
gerarão empregos, renda e tributos”, detalhou ressaltando ser necessária a
capacitação e formação de recursos humanos bem como a pesquisa e o
desenvolvimento de novas tecnologias.
O vereador
também ressaltou que a renúncia fiscal para uso de energias pode ferir a Lei de
Responsabilidade Fiscal, tendo por base seu artigo 14, pela necessidade de
estimativa de impacto orçamentário-financeiro e acompanhamento de medidas de
compensação. “Em Pato Branco estamos começando com a Lei Ordinária 5.870 de
2022 que prevê o uso de energia solar em bens imóveis, logradouros públicos e
sinalização de semáforos.”
O engenheiro
eletricista Milton Carlos Marcante, da Patoeste, evidenciou as experiências de
mercado falou sobre a matriz energética brasileira. “Em 2012 tivemos a
Regulação 482, da Aneel que permite qualquer consumidor gerar sua própria
energia que com a compensação de créditos, estabelecida em 2015, gerou amplo
desenvolvimento do Setor. “Existem no mercado produtos com 25 anos de garantia,
alto grau de eficiência com tantos anos de uso e o investimento em energia
solar gera taxas internas de retorno acima de 2% ao mês, sendo, de fato, um bom
negócio para quem empreende. Investir na
área ajuda o meio ambiente, não há ruídos, a manutenção é mínima e existem
subsídios e incentivos disponíveis.”
Milton
ressaltou que no Brasil há mais de R$90,9 bilhões em novos investimentos; mais
de 524 mil novos empregos acumulados e mais de 25,7 milhões de toneladas de
dióxido de carbono evitadas. “Temos uma tendência de aumentos inflacionários no
custo da energia elétrica e quem investir na energia solar pode escapar deles,
entre outros benefícios.”
O mestre e doutor em Engenharia
Elétrica, representando a UTFPR, Jean Patric da Costa foi mais provocativo.
Levantou as origens da Geração Centralizada e os desafios nas redes de
transmissão com a interferência da transmissão distribuída (Com várias fontes
geradoras) que afetam a qualidade da energia. Problemas que, segundo ele, podem
ser oportunidades de negócios. Tanto que até mesmo a UTFPR estuda alternativas
para melhorar a qualidade da transmissão que, para quem empreende, pode
representar a chance de grandes negócios. “Temos redes de 60 anos atrás em
operação e a Área vive muitas alterações que exigirão ajustes que poderão
representar grandes oportunidades. Um curto circuito num dia chuvoso pode
representar o corte de uma Itaipu de energia, o que deve ser revisto, tais os
impactos que gera.” Segundo ele,
transformadores de redes nunca trabalharam tanto para ajustar as oscilações
geradas, inclusive, pela geração descentralizada. Softwares e recursos de
inteligência na distribuição podem ser alternativas lucrativas. “Há estudos de
equipamentos, mas demandam por investimentos em protótipos”, explicou.
O professor
doutor também evidenciou os desafios que chegarão com o carro elétrico, através
da exigência energética para o recarregamento. Segundo estudos apontados por
ele, o sonho do consumidor é recarregar o veículo em 15 minutos, algo que, para
a prática, exigiria uma demanda energética equivalente a 43 chuveiros. “Mesmo
imaginando poucos carros elétricos realizando o recarregamento a demanda
energética tende a chegar em patamares elevadíssimos, antes não observados.”
Um veículo a
diesel, contou o professor, percorre 750 quilômetros em oito horas parando 30
minutos. Um elétrico poderia fazer o mesmo trajeto com recargas de 15 minutos a
cada 1h45min. Numa viagem o elétrico demandaria 15 minutos a mais, o que mostra
ser uma realidade possível, desde que sejam desenvolvidas saídas para o
recarregamento rápido, o que pode ser, também, uma oportunidade.
Cícero Blay
Júnior, profissional com experiência na Itaipu Binacional, na presidência do
Centro Internacional de Energias Renováveis e da Associação Brasileira de
Biogás e Biometanom diz que a geração energética descentralizada é moderna e
interessante para o país. Ele que esteve pelo Senai ressaltou que “o modelo de
geração centralizada que transporta a energia por mais de 1000 quilômetros apresenta problemas na qualidade e estamos
tendo a chance de mudar com a produção descentralizada (Próxima do local de
consumo). Ele lembrou que vivenciou três picos energéticos na estadia do Hotel,
no centro da cidade de Pato Branco. “Devem ter picos mais intensos fora dos
eixos centrais, no interior, num aviário, com 70 mil aves que podem morrer.
Chegamos a uma fase de repensar as políticas energéticas locais, com matrizes
mais próximas, equilibradas, sustentáveis e que evitem futuras dificuldades.
Lembrou do biogás que pode ser gerado em locais como o Sudoeste que, por
exemplo, tem a segunda bacia leiteira do estado. A geração energética
distribuída, contraria interesses de grandes grupos, sendo uma ruptura
favorável para a sociedade. Se Pato Branco possuísse geração distribuída, os
três picos no Hotel não teriam ocorrido e efeitos na cidade seriam muito
menores.”
Cícero
evidenciou que na avicultura a automação aumenta cotidianamente, assim como a
demanda energética. A energia solar ou de geração do biogás são alternativas
altamente interessantes e seguras. “Estruturas maiores blindaram decisores
políticos para que não houvesse a geração distribuída. Afinal ela transfere
renda e afeta na arrecadação de grandes corporações que buscam leis de proteção
para si, algo que a sociedade não pode aceitar e deve buscar alternativas e
posturas firmes de seus representantes.”
A energia e o
poder têm relacionamentos próximos. Para o palestrante um exemplo é o diesel.
Para a pecuária de leite o transporte com diesel impacta em 60% nos custos do
produto. “Não dá mais para coletar leite com diesel e precisamos encontrar
caminhos que até mesmo contemplem a descarbonização.”
A indústria,
comentou, produz usando energia; precisa utilizar-se de energias renováveis
para descarbonizar a produção e exportá-la e fabrica os processos energéticos.
É, portanto, parte diretamente interessada na evolução do Setor que vive o
declínio do carvão, do petróleo e parte para gases como hidrogênio, gás natural
e biometano. “Temos um mundo com crescimento econômico não sustentável, de
produção energética centralizada e tecnologias interligadas e caminhamos para
algo mais local, sustentável e descentralizado. Com o novo marco legal do gás
natural, explicou Cícero, cidades terão a oportunidade de regionalizar o biogás
que pode ser armazenado e continuamente utilizado, algo diferente das energias
solar e eólica.
O biometano
pode ser gerado a partir da cana de açúcar, da proteína animal, da agricultura
e até do aproveitamento racional do saneamento urbano. Seu impacto pode chegar
a 24,5% da demanda nacional. Algo que foi estimulado pela Lei 14.314/21 que
torna o biometano e o gás natural intercambiáveis, porém a sociedade precisa
ficar atenta com seus representantes para que, de fato, esta opção de energia
alternativa e as outras também tenham espaço. “Quanto mais diversificadas
nossas opções mais segurança a sociedade terá com o emprego de energia na sua
existência”, finalizou.
Para o
presidente do IRDES, Cláudio Petrycoski o encontro serviu para analisarmos mais
profundamente os desafios da sociedade – que são muitos – e as alternativas que
surgem a partir dos problemas, possibilitando novos negócios e novas fontes de
desenvolvimento econômico. “Estaremos, via IRDES e com entidade parceiras,
buscando formas de trazer o futuro energético para a região, num primeiro
passo, a partir da conscientização social e, após, do preparo de profissionais
e da criação de redes proativas de relacionamento.”
Cláudio lembrou
que em Pato Branco temos em torno de 30.000 usuários de energia. Deste total,
se 40% pagar a mais que a conta básica teremos cerca de 11.700 contas que, se
economizarem R$200,00, cada, em energia
nos gerariam uma retenção local de recursos na ordem de R$2,3 milhões ao mês ou
até R$28 milhões por ano... Uma soma que representa oportunidade de economia
futura para as famílias; de potencialização comercial na área e de estímulo a
futuros empreendimentos industriais vinculados a energia alternativa. Vamos
ampliar estes números para a região, podem ser muito maiores, com enormes
possibilidades com o uso de energias solar, eólica e de aproveitamento do gás
metano.
“Neste encontro
retomamos o que o Fórum de Desenvolvimento de Pato Branco, que precedeu o
IRDES, realizava tradicionalmente: bons debates. Lembro claramente de
lideranças envolvidas em discussões de relevância para a comunidade. A partir
do que colhermos dele, deveremos partir para um plano de ações que gerem o
aproveitamento de ideias em práticas transformadoras.”
O secretário municipal
de Ciência, Tecnologia e Inovações de Pato Branco, Giles Balbinotti diz ser
parceiro da iniciativa por fomentar um debate mais aprofundado que pode ser
útil para a busca por oportunidades para o desenvolvimento econômico do
território. “Estamos certos de que os conhecimentos adquiridos poderão ter bons
desdobramentos.”
Entre os
presentes no encontro Juliane Agnes, gerente do Senai; Olcimar Tramontini,
presidente do Sindimetal Sudoeste; Tiago Lazarotto, diretor do NTI; dos
vereadores Claudemir Zanco (Presidente da Câmara), Dalmarino Setti, diretor de
Relações Empresariais e Comunitárias da UTFPR e Marcos Diedrich Júnior e da
vice-presidente do IRDES, Rosana Demétrio Costa.
Lilian Dal Bello, executiva do IRDES agradece os convidados e parceiros pelo apoio na iniciativa. "Teremos novos debates e sempre a participação das lideranças faz a diferença."
O evento teve o
apoio da Secretaria Municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação, da UTFPR e da
FIEP (SESI e SENAI).