Reflita um
minutinho: e se você e as pessoas que você ama não contarem com os nossos
hospitais num caso de emergência? Para que município iriam? Quanto tempo
levaria para chegarem lá? E qual a qualidade do serviço recebido? Haveria
estrutura para acolhimento? Um AVC, um ataque cardíaco, um trauma por acidente
e outro problema grave que, geralmente demandam atendimento rápido, teriam a
mesma resolutividade? Muito provavelmente, não. E a sensação de segurança em
residir aqui, na sua cidade, na sua região, não seria, verdadeiramente, a
mesma. Reflita...
Nossos serviços
hospitalares não são perfeitos. Mas,
quem já viajou para outros estados sabe muito bem que estamos noutro patamar na
qualidade do atendimento. Um patamar que
corre o risco de mudar se o grave quadro financeiro dos hospitais filantrópicos
de Pato Branco e da região não for tratado de forma diferente, tanto pelas
autoridades públicas quanto pela sociedade civil como um todo.
Nos últimos
cinco anos 315 hospitais fecharam as portas ou encerraram os atendimentos pelo
Sistema Único de Saúde, gerando maior pressão para as instituições abertas,
muitas delas moribundas por valores congelados de repasses num contraste com
elevações inflacionárias, sem precedentes, nos custos de insumos, dos medicamentos,
dos serviços e dos profissionais. As receitas financeiras das instituições
hospitalares simplesmente não cobrem os custos e, tenha certeza, não vai muito
tempo – caso não haja uma atitude de mudança - para você escutar sobre
fechamento de mais hospitais, descredenciamentos do SUS e agravamentos na
qualidade do atendimento com filas e filas de espera e longos deslocamentos de
gente, até mesmo, para outras regiões.
Há uma nítida
crise nos hospitais. E, ao mesmo tempo, as comunidades querem contar com os melhores
médicos e estruturas modernas. Elas mesmas são as primeiras a reclamar do ganho
deles. Se nossos hospitais não os remunerarem bem, em um único mês estarão
atuando em outros lugares distantes, nos desamparando. Num caso de enfermidade
grave você gostaria de contar com um bom médico ou com um profissional ainda
não reconhecido? Pois é, num mercado restrito de médicos, o caminho é mantê-los
e pagar o preço por isso. E nem os considerados altos salários para a região se
mostram acima do que o mercado nacional paga tal a diferença entre a oferta de
profissionais e a demanda por eles. É algo que torna as estruturas de saúde
reféns de um contexto de formação profissional que demorará muito para ser
modificado.
Hospitais
referência no país como Sírio Libanes e Albert Einstein, entre outros, ocupam
vanguarda em tecnologias aplicadas e infraestrutura não só pelas receitas
particulares, de convênios e governamentais. Eles recebem doações imponentes da
sociedade civil organizada que entende como estratégico e vital ter estruturas preparadas
e modernas para casos complexos. Durante a pandemia de Covid somente o ingresso
de um paciente a hospitais de renome envolvia cifras próximas a R$1 milhão e,
ainda assim, segue a preocupação social é manter e potencializar tais
estruturas.
Por aqui temos
como referência o Hospital Filantrópico Policlínica Pato Branco que apresenta o
maior Centro Cirúrgico da Região e a maior variedade de especialidades médicas.
Alguns profissionais são demandados e reconhecidos nacionalmente por cirurgias
complexas, transplantes e tratamentos oncológicos. É um Hospital que presta
mais de 76% dos atendimentos via SUS e, surpreendentemente, acaba de lançar a
Campanha Salve o Hospital, tal a preocupante situação financeira em que se
encontra que, se não sanada, poderá gerar resultados devastadores para nossa
Saúde.
A Policlínica
Pato Branco, como chamamos, virou Instituto Filantrópico como forma de
minimizar custos internos e manter as portas abertas. É, sim, sem fins
lucrativos e, como outros institutos, tudo que receber, se um dia não existir,
será destinado para entidades com objetivos similares. Se um dia obtiver sobras
de capital o valor é reinvestido, exclusivamente, na estrutura de atendimento
ou na composição de capital de giro, esta última indispensável para uma
adequada saúde financeira.
Ai você se
pergunta: Mas como o Hospital fecha no vermelho? A resposta está no quase
congelamento da Tabela do SUS, desde 1994. De lá para cá os reajustes nos
repasses totalizaram cerca de 94% enquanto a inflação medida por órgãos
oficiais foi superior a 540%. Salários, prestadores de serviços, insumos e
medicamentos subiram infinitamente mais do que as casas hospitalares receberam do
Governo pelos seus serviços.
Para melhor
entendimento a Tabela SUS paga por uma diária de UTI Tipo 2 cerca de R$600,00.
Já o custo para manter a UTI Pediátrica, por exemplo, é de R$1.573,86. Faltam,
portanto, R$973,86 por dia, fazendo com que o Instituto absorva o imenso prejuízo
com rendimentos vindos de atendimentos
particulares e convênios, isso quando possível. Aí está a prova clara de que a
Saúde não está sendo tratada como investimento, mas como custo e o preço, da
sequência deste entendimento, pode ser muito caro num futuro próximo.
A crise, como
já evidenciamos, é algo não restrito a
um hospital. Em municípios vizinhos Instituições hospitalares também amargam
resultados que estão demandando uma imensa mobilização política e comunitária.
Caso não haja uma atitude mais ativa, corre, também, infelizmente, riscos de
comprometimento de serviços e até mesmo na disponibilidade estrutural, o que
ninguém deseja.
Existem ainda
soluções “salvadoras” voltadas a hospitais públicos que, segundo a Confederação
das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas (CMB),
são cerca de oito vezes mais caros para os cofres públicos, com entregas
similares e até mesmo inferiores. De acordo com Jeff Plentz, presidente do
Conselho de Administração da Techtools Health, empresa especializada em gestão
tecnológica em Saúde, para cada R$1 produzido em assistência nos filantrópicos,
apenas R$0,44 são pagos pelo SUS. Mais um reforço de que a matemática não está
fechando e, tal fato, pode nos levar ao caos.
As autoridades
públicas sabem da situação. Secretários municipais, chefes de Regionais, prefeitos,
governadores, parlamentares e o Governo Federal têm o entendimento de que
beiramos o caos. Porém, além de ajudas pontuais em infraestrutura, pouco ou
nada colaboram a mais para equilibrar os custos operacionais, no que seria uma
forma coerente de compensação ao congelamento da Tabela SUS.
O quadro é tão
precário que tais instituições acabam se voltando, novamente, para a Sociedade
Civil Organizada em busca de alternativas de sobrevivência. Já que de onde a
ajuda deveria vir, de fato, que é do Governo e nossos representantes ou há
lentidão ou inércia.
Enquanto os
minutos passam quem banca, de fato, as diferenças financeiras dos atendimentos
SUS são, portanto, nossos hospitais filantrópicos. Alguma organização passará
muito tempo suportando fechar as contas mensais no vermelho? Em algum momento
as engrenagens – se não houver mudança - devem parar. E, aí, pode ser tarde
demais para as atitudes que já deveriam ter sido tomadas por quem tem poder de
mudar.
Existe, ainda,
esperança... E ela está na atitude de quem pode mudar o triste contexto.
Tiago Nunes
e Silva, presidente do Instituto Regional de Desenvolvimento Econômico e
Social - IRDES