O Sudoeste do Paraná tem tradição na
produção de Queijo Colonial no Brasil. Um produto que se baseia na utilização
do leite bovino, conferindo características microbiológicas específicas, que têm
relação com o tipo de solo, clima e até mesmo vegetação, impactando no sabor
final oferecido para apreciadores de todo o país.
Todos os 42 municípios do Sudoeste
Paranaense contam com produtores de queijo colonial. Muitos deles são
associados a Associação dos Produtores de Queijo Artesanal do Sudoeste –
Aprosud, que tem como presidente Claudemir Roos. “Todos nossos associados são
produtores de queijo colonial e vem, a cada ano, ganhando mais espaço atendendo
apreciadores do produto em todo o país.
Roos lembra que alguns associados foram
premiados em 2023: Na 1ª Edição do Prêmio Queijos do Paraná, organizada pelo
Sistema FAEP, SEBRAE Pr e pelo IDR, a Queijaria São Bento, de Chopinzinho,
ficou com o bronze; o próprio presidente da Aprosud teve seu produto obtendo as
medalhas prata e ouro, no VI Prêmio Queijo Brasil, em Blumenão, SC; entre
outros produtores que também receberam reconhecimentos estaduais e nacionais.
“Na APROSUD compartilhamos conhecimentos com produtores de toda a região
procurando potencializar as características diferenciadas de nossos produtos.”
De acordo com a doutora em Ciência dos
Alimentos e professora do Curso de Engenharia de Alimentos, na Universidade
Tecnológica Federal do Paraná, em Francisco Beltrão, Fabiane Picinin de Castro
Cislaghi o livro “History of Brazil”, de
1819, escrito por R Southey descreveu os
queijos nos estados do Paraná, Minas Gerais, Pará, Pernambuco e Rio Grande do
Sul. “Uma cultura que era transferida de geração a geração”, conta ela,
ressaltando que, em seus estudos, identificou que “durante a Era Vargas
(1930-45) a transformação doméstica de produtos agropecuários, realizada no
interior da propriedade rural era algo comum, um legado dos antepassados,
especialmente imigrantes europeus do Sul do Brasil.”
Com os imigrantes, chegou ao país a
tecnologia de produção de queijos que foi adaptada às condições brasileiras. No
Sudoeste Paranaense, a fabricação de queijos coloniais é apresentada até mesmo
em anotações históricas da CANGO (Colônia Agrícola Nacional de General Osório),
que relatava produções significativas na região, sendo um dos três produtos de
origem animal processados na região, ao lado do mel e da linguiça.
Produtores de queijo colonial fazem a
ordenha, o peneiramento do leite, aquecimento a aproximadamente 30 graus
centígrados, acréscimo de sal e coalho. Depois talha-se a massa que é enformada
e prensada, ficando um período para maturação. Uma tradição, conta a doutora,
“reconhecida pelo Movimento Slow Food (Preconiza o prazer aliado a
alimentação e ao reconhecimento da diversidade de lugares), movimento mundial
que promove a preservação e cultura ligada aos produtos tradicionais, sendo que
o Queijo Colonial do Sudoeste do Paraná está presente no mapa Slow Food
das principais regiões da produção artesanal de queijos no Brasil.”
Ela lembra que o Queijo Colonial do Sudoeste Paranaense também
está inserido no mapa das potenciais Indicações Geográficas (IG) do Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) reportando-se aos produtos
agropecuários resultantes de um levantamento feito pela Coordenação de
Indicação Geográfica de Produtos Agropecuários (CIG), junto às Divisões de
Política, Produção e Desenvolvimento Agropecuário (DPDAG), nas
Superintendências Federais de Agricultura (SFA) em seus respectivos Estados e
no Distrito Federal, bem como outras instituições parceiras. De acordo com a
publicação Mapa Interativo – Indicação Geográfica, do MAPA, publicado em 20 de
abril de 2021, “o queijo Colonial do Sudoeste do Paraná é uma potencial Indicação
de Procedência, relacionado à potencialidade do produto ligada a sua tradição e
notoriedade da região na produção do referido produto”, algo que, enfatiza,
Fabiane Picinin de Castro Cislaghi confirma o queijo Colonial artesanal da
região como produto tradicional.
Na “Avaliação do Potencial de IG para o
Queijo Colonial do Sudoeste do Paraná”, em 2020, o SEBRAE – Serviço Brasileiro
de Apoio às Micro e Pequenas Empresas evidenciou um amplo estudo sobre as
qualidades relacionadas do queijo ao ambiente onde é produzido, sendo
tradicional, expressando a história das famílias. É, segundo o SEBRAE, um
patrimônio do Estado do Paraná e, consequentemente, brasileiro.”
A doutora cita o livro “Que qualidades
para quais mercados? O caso do queijo colonial da microrregião de Capanema”, na
Revista Nera, os autores comentam sobre a disseminação dos meios de produção:
“observou-se
que o saber fazer foi passado de geração em geração, visto que todos os
produtores afirmaram ter aprendido a fazer o queijo com familiares,
demonstrando o caráter tradicional desse produto. No que diz respeito à
artesanalidade, o queijo Colonial é produzido a partir de mão de obra familiar,
sua produção é quase que totalmente manual, com pouca ou nenhuma tecnologia,
podendo ser considerado um queijo artesanal.”
A própria Associação dos Municípios do
Sudoeste do Paraná, AMSOP, através de seu presidente Eloir Nelson Lange
reconhece a importância do queijo colonial que está na maior bacia leiteira do
Estado. “Em todos os municípios há produção de queijo colonial e isto está na
cultura de nossa gente.”
O presidente da Coordenadoria das
Associações Comerciais e Empresariais do Sudoeste do Paraná, Cacispar,
Edilberto Minski diz que o comércio é testemunha da demanda e popularidade do
queijo colonial. Estabelecimentos comerciais adquirem o produto de forma
recorrente, tal a demanda por este tipo de produto.”
A chefe do Núcleo Regional da Secretaria
de Estado da Agricultura e Abastecimento, a médica veterinária Denise Chiapetti
Adamchuk enfatiza que o Leite Colonial do Sudoeste agrega valor a produção
leiteira. “O queijo colonial é produzido em todos os 42 municípios do Sudoeste
do Paraná, tendo ligação direta com as vocações das etnias”, ressalta Denise
detalhando que tanto a Secretaria de Estado, via IDR e ADAPAR e prefeituras têm
voltado atenções para o fomento, o controle sanitário e a qualidade dos produtos,
tal a importância deles como alternativa extra de renda para as famílias do
interior. No entendimento da chefe do Núcleo, o futuro do Queijo Colonial do
Sudoeste “é promissor, resgatando e projetando a maneira simples de viver com
sabores regionais, atraindo turistas de diversos pontos do país e tornando as
propriedades economicamente viáveis.”
Fotos Carina Pelegrini